terça-feira, 23 de agosto de 2011

O HÍFEN COM PREFIXOS

 

Pelo ACORDO ORTOGRÁFICO, em vigor desde janeiro de 2009, as palavras com prefixos passam a ter as seguintes configurações:

a) Prefixos que sempre exigem hífen:
    além, aquém, bem, ex(cessar), grão, grã, pós, pré, pró, recém, sem, soto, vice, vizo
além-túmulo, aquém-montes, bem-vindo, ex-diretor, grão-vizir, grã-fino, pós-datar,  pré-vestibular, pró-construção, recém-nascido, sem-nome, soto-ministro, vice-diretor, vizo-rei

Porém, cuidado, há algumas exceções que, por isso, não possuem hífen:
    bendizer, bendito, benfeitor, sensabor, sotopor, sotavento



b) Com a maioria dos prefixos (ou falsos prefixos) haverá hífen apenas quando a última letra prefixo for igual  a mesma letra inicial do elemento seguinte ou  for H:
ab, ad, aero, agro, ambi, anfi, ante, anti, arqui, audio, auto, bi, bio, cardio, centro, cis, contra, deca, eletro, entre, estereo, extra, fisio, foto, gastro, geo, hemi, hepta, hexa, hetero, hidro, hiper, hipo, homo, infra, inter, intra, intro, justa, macro, maxi, micro, mini, mono, morfo, moto, multi, neo, neuro, octa, oni, orto, para, pluri, penta, pneumo, poli, pos, pre, pro, proto, pseudo, psico, quadri, radio, re, retro, semi, sobre, socio, super, supra, tele, termo, tetra, trans, tri, turbo, ultra, uni, zoo.

abreação, adrogar, ambivalente, anfiteatro, antebraço, ante-histórico, anteontem, anterrepublicano, antessala, antiaéreo, antigripal, anti-hemorrágico, anti-incêndio, anti-herói, anti-inflacionário, anti-inflamatório, antissocial, arquirrival, arquibancada, arqui-hipérbole, arqui-inimigo, audiovisual, auto-hipnose, auto-ônibus, autoadesivo, autodestruição, autoescola, auto-hipnose, autorretrato, autosserviço, bicampeão, biodegradável, cardiovascular, cisandino, contra-ataque contrabaixo, contrarreforma, contrarregra, contrassenso, decalitro, decassílabo, extraescolar, extra-hepático, extra-humano, extrajudicial, extraoficial, fotossensível, gastroclínica, geo-história, geoquímica, hemicírculo, heptacampeão, hexassílabo, heterossexual, hidroavião, hiperativo, hiper-hidratação, hiper-honesto, hiper-resistente, hipocondríaco, hipodérmico, homossexual, infra-hepático, infraestrutura, infravioleta, interarticular, interbranquial, intercontinental, interestadual, interurbano, inter-hemisférico,  inter-helênico, inter-relacionar, intranet, intraocular, intrarracial, intrassetorial,  justaposição, macroeconomia, macro-organismo, macro-histórico, malcriado, maldito, maxidesvalorização, maxissaia, microacústico, micro-ondas, micro-ônibus, minissaia, monobloco, multipartição, neobarroco, neo-helênico, neo-humanismo, neoirlandês, neurocirurgia, octacampeão, onipresença, pansexualismo, paradidático, paramédico, pentacampeão, policultura, poscefálico, premeditar, procriação, protocélula, proto-história, protomártir, pseudoartista, pseudocientífico, pseudo-herói, psicodrama, quadrivelocidade, retroescavadeira, semialfabetizado, semiárido, semidestruído, semirreta, semisselvagem, sobreaviso, sobre-erguer, sobre-humano,  super-homem, superabundante, supersensível, supra-hepático, supracitado, supramencionado, teleamigo, telecurso, termoelétrico, termometria, tetracampeonato, tetracarpo, transamazônico, transfigurar, tricelular, turbo-hélice, turbopropulsor, ultra-adequado, ultra-aquecido, ultrassensível, ultrassom, unicelular, unicultura, zoofilia, zoográfico.



c) Os prefixos circum e pan exigem hífen apenas quando o segundo elemento iniciar por VOGAL, H, M ou N.
          circum-adjacente, circumceleste, circum-escolar, circum-hospitalar, circum-mundial, circum-murado, circum-navegação, circumpercorrer, circunvizinho, pan-africanismo, pan-americano, pan-helênico, pan-islâmico, pan-mágica, panzoótico.         



d) O prefixo mal exige hífen apenas quando o segundo elemento iniciar por VOGAL ou  H.
          mal-acabado, mal-afamado, malcriado, mal-educado, mal-encarado, mal-estar, malfeito, malformação mal-humorado, malmequer, malvestido, malvisto.


e) O prefixo sub exige hífen apenas quando o segundo elemento iniciar por H, R ou B.
         subaquático, subalugar, sub-base, subchefe, subclasse, subcomissão, subconjunto, subdelegado, subdiretor, subeditor, subemprego, subentendido, subestimar, subfaturado, sub-habitação, sub-hepático, sub-humano, subitem, subjacente, subjugado, sublingual, sublocação, submundo, subnutrido, suboficial, subprefeito, sub-raça, sub-reino, sub-reitor, subseção, subsíndico, subsolo, subterrâneo, subtenente, subtítulo, subtotal


f) O prefixo co exige hífen apenas quando o segundo elemento iniciar por H.
          coautor, codiretor, coeducação, coestaduano, coexistir, co-habitar, co-habitação, coobrigar, co-herdar, coocupante, corresponsável, cosseno, cossecante, cotangente.


  
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:

Quando a partição silábica coincidir com o hífen da palavra, DEVE-SE repeti-lo na linha seguinte. Essa é uma regra obrigatória, e serve para evitar que vocábulos compostos sejam tomados por simples:
                                 audiovisual       audio-     
                                                          visual   
            
                                verde-claro      verde-                                    
                                                        -claro






sábado, 20 de agosto de 2011

DE ACORDO COM O ACORDO, ou... NEM TANTO...

Esta é uma resposta a questões trazidas por alguns alunos sobre PÁRA, PRÉ, PRÓ e PÓS.
         
O Acordo Ortográfico, em vigor desde 1° de janeiro de 2010, infelizmente, deixou no ar muitas dúvidas. Especialmente no que diz respeito ao emprego do hífen em algum as palavras. Esta é uma delas, vejamos:

·        Antes do acordo:
PÁRA, PRÉ, PRÓ e PÓS – com acento - exigiam hífen em todas as ocasiões;
PARA, PRE, PRO e POS – sem acento - nunca aceitavam hífen.
Ex.: pára-quedas, pára-lama, pára-choque, pára-vento, pré-vestibular, pré-datar, pró-reitor, pró-construção,  pós-graduação, pós-datar; paramédico, paradidático, paranormal, preconceito, preestabelecer, procriação, propor, posposto, pospontar...

·        Depois do acordo:
PRÉ, PRÓ e PÓS – com acento - continuam exigindo hífen em todas as ocasiões.
PRE, PRO e POS – sem acento - continuam nunca aceitando hífen.
            Ex.: pré-vestibular, pré-datar, pró-construção, pró-reitor, pós-graduação, pós-datar; preconceito, preestabelecer, procriação, propor, posposto, pospontar...          
Com esses três prefixos, nenhuma novidade...
Mas...    
Com relação ao PARA (proveniente do verbo parar = proteger, resguardar, aparar) a confusão está instalada. Era acentuado antes do acordo e, agora, perdeu o acento. No entanto, ao consultar diversos autores, encontramos algumas orientações diferentes quanto ao uso do hífen.         
          Para dirimir todas as dúvidas, deve-se ir direto à fonte. E a fonte é o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, que é onde encontramos as grafias OFICIAIS das palavras da nossa Língua.


Pois bem: no Vocabulário Ortográfico, depois do Acordo, as palavras que possuem o prefixo PARA, seguido de hífen passaram a ser as seguintes - APENAS AS SEGUINTES:
para-apendicite,  para-axial, para-balas, para-brisa, para-brisas, para-centelhas, para-chispas, para-choque, para-choques, para-chuva, para-chuvas, para-cinzas, para-costas, para-estilhaços, para-estopilha, para-estopilhas, para-fios, para-fogo, para-fogos, para-hélio, para-hidrogênio para-hidrogênico, para-história, para-lama, para-lamas, para-luz, para-luzes, para-muro, para-muros, para-pelote, para-pelotes, para-raios, para-sol-da-china, para-sóis-da-china, para-sol, para-sóis, para-vento, para-ventos


            O Acordo traz, ainda, SEM hífen algumas palavras que, devido ao seu uso, perderam a noção de composição, e traz como exemplos:
paradidático, paraestatal, paramédico, paranormal, parapente, parapeito, parapsicologia, paraquedas, paraquedista, paraquedismo, paratifóide...

A confusão se estabelece porque, em alguns dicionários, inclusive no Dicionário Aurélio, há algumas discordâncias.
Contrariando o contido no Vocabulário, eles trazem:
parabrisa, parachoque, parachoques, paralama, paralamas, pararraios, paravento, paraventos.
             A solução para essa discussão toda será dada com a republicação do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, já prometida pela Academia Brasileira de Letras.
Resta-nos aguardar...
           
Porém, tem mais... acredite...
O inusitado fica por conta do registro, no Vocabulário Ortográfico, de palavra com a letra H, medial.
Segundo a Gramática, usa-se H no meio de palavras apenas nos dígrafos CH, LH, NH; na palavra BAHIA (estado), por tradição; e em nomes fantasia, como Brahma e Bohemia. Porém, no Vocabulário encontramos: parahopeita e parahnita.
           
 Durma-se com um barulho desses...

terça-feira, 16 de agosto de 2011

OUTRA VEZ A MÃO DE DEUS

Numa certa época de minha vida, eu lecionava, em Porto Alegre, pela manhã e pela tarde, numa escola de segundo grau (era assim que se denominava o atual Ensino Médio). À noite, eu dava aulas em dois cursinhos Pré-Vestibular  que possuíam sede em Porto Alegre e filiais em algumas cidades do interior. De segunda a sexta-feira, eu viajava para essas sedes – Gramado, Taquara, Osório, Estrela e Bento Gonçalves – todas distanciando de Porto Alegre em torno de 100 quilômetros.
Dava minhas aulas pela manhã e pela tarde e ainda viajava para o interior - eu mesmo dirigia. Para completar, o carro que eu possuía na época, era uma Kombi (a velha e querida Kombi de tantas histórias...). Nessas viagens levava sempre comigo um filho ou uma filha para me acompanhar.
Velha companheira de viagens... Aqui em frente à casa antiga em Cidreira...
 Uma dessas viagens, era para o município de Osório, localizado no litoral do estado, a 95 quilômetros de Porto Alegre.  

Vista de Osório do Morro da Borússia
 Em Osório, localiza-se o maior projeto de produção de energia eólica da América Latina, o Parque Eólico de Osório, que tem potência instalada para a geração de 150 megawatts, ou 425 milhões de kilowatts/hora por ano, o que é suficiente para abastecer meia capital gaúcha por doze meses ou 650 mil residências. Atualmente é o responsável pela produção de mais de 50% da capacidade eólica total instalada no território brasileiro.

Trecho da FreeWay, Lagoa dos Barros e Parque Eólico...
Para se chegar a Osório, usa-se a BR 290, Estrada General Osório, conhecida como FreeWay. Uma estrada moderna, muito bem cuidada (também, com os pedágios que se paga...), mas muito perigosa.

FreeWay - BR 290
Muitos acidentes ocorrem pela imprudência dos motoristas que exageram na velocidade, mas outros acontecem por causa dos ventos.

Ônibus tombado na freeway pela força do vento ..
Sim, os mesmos ventos que movimentam os cataventos do parque eólico, em determinadas épocas do ano, tornam-se muito fortes, tão fortes que são capazes de virar até ônibus e caminhões na FreeWay, especialmente no trecho próximo às lagoas.
Num belo dia, depois de abastecer a Kombi, lá fui eu, FreeWay afora, acompanhado de minha filha Helena, dar minhas aulas no cursinho de Osório. O tempo virou e a chuva chegou. Muita chuva. Temporal... Não bastasse isso, a chuva veio acompanhada de ventos muito fortes. Casas foram destelhadas, árvores arrancadas...
Destruição ao longo da estrada... 
Na volta para Porto Alegre – as aulas terminavam às 22h30 – a chuva continuava forte, e os ventos também... Na estrada, pouco movimento por causa do horário e por causa do tempo. E eu não podia ficar esperando, já que no dia seguinte a rotina continuaria... aulas pela manhã, tarde e noite...
Com muito cuidado, lá íamos nós, Helena e eu. A Kombi sacudia, dançava, rebolava.. e muito. Balançava de um lado para outro, e eu precisava manter uma velocidade razoável, já que, numa situação assim, correr faz com que se perca o controle do veículo; se andar devagar demais, o vento o tomba... E, lá íamos nós... apreensão, tensão, medo... Relâmpagos, trovoadas, rajadas de chuva, lambidas de vento... Um horror... Quando chegamos no trecho perto da Lagoa dos Barros, o vento apertou... As rajadas ficavam cada vez mais fortes e desordenadas. O limpador de pára-brisas quase não dava conta da quantidade de água que batia no vidro dianteiro da Kombi, então aconteceu...
De repente...
Você já assistiu daqueles shows onde pilotos experientes fazem acrobacias com carros em que eles os dirigem inclinados sobre apenas duas rodas...
Pois é...

Uma forte rajada  de vento fez a Kombi sacudir e quase virar... Outra rajada mais forte e lá fomos nós... a Kombi não chegou a virar... mas ficou em duas rodas... isso mesmo, inclinou e ficou em duas rodas... Questão de segundos...
Quando algo assim acontece, a reação automática do motorista é girar a direção do carro para o lado das rodas que estão no ar, na tentativa de “puxar” o carro para a posição normal.. e esse é o erro...Jamais se pode fazer esse movimento, pois ele fará a roda dianteira, que está suportando o peso do carro, curvar-se ainda mais para dentro e virar de vez, tombando o carro.
Essa foi mais uma daquelas ocasiões em que percebi a presença da mão de Deus me ajudando.
Eu não pensei em nada, apenas fiquei apavorado e puxei (Deus me fez puxar ou puxou para mim) a direção em sentido oposto, o que fez com que a Kombi permanecesse andando de 15 a  20 metros em duas rodas para depois voltar à posição normal...
Depois disso, andei mais uns 500 metros e parei a Kombi embaixo de um viaduto, para nos proteger da chuva e recuperar o fôlego... Olhei para a Helena, ele estava pálida, branca, opaca... e eu... não conseguia fazer meus joelhos pararem de tremer, aliás não era só os joelhos que tremiam... as mãos, os braços, as pernas... tremia tudo... Vocês podem estar rindo... mas foi um susto enorme... ficamos ali um bom tempo esperando a tempestade parar. Quando os ventos pareciam ter acalmado um pouco e a chuva amainado, continuamos nossa volta para casa... Havia ainda muitas rajadas de ventos e, para não ter mais surpresas como aquela, posicionei a Kombi ao lado de uma carreta, carregada, que passava, e andei um bom trecho ao seu lado, usando-a como se fosse um escudo. Claro que dormir naquela noite foi difícil... não preciso dizer por quê...
 
Eu e Helena, minha copiloto dessa e de muitas outras viagens...
Que viagem!… mais uma para ficar na lembrança...e, como disse, mais uma em que senti a mão de Deus me ajudando...


domingo, 31 de julho de 2011

SER PAI


Se ser mãe é padecer no paraíso, como diz o poeta; ser pai é, digamos, viver numa espécie de “inferno”.
Ser pai é um conjunto de atividades e atitudes, atos e ações... é a junção de uma infinidade de pequenas peças que vão compor o todo.
São as contas a pagar; é o carro que engasga; é o médico que cobrou uma fortuna pela consulta; é a lâmpada que queimou; é o gás que acabou; é a professora que chama para reclamar que o filho incomoda; são mais contas a pagar; é a resistência do chuveiro que queimou; é a bicicleta do filho que estragou; é o sofisticado aparelho de som que o filho queimou; é a avó que estragou o filho; são outras contas a pagar; é o vestido que a filha precisa; é o material escolar; é ver que todos os preços sobem, menos o seu salário; é a pia da cozinha que entupiu; é a dor de cabeça do filho do meio; é sua gravata que sumiu; são mais e mais contas a pagar; é o mês mais comprido que o seu salário; é a roupa que você mais curte sendo usada pelo filho mais velho para sair com a namorada...
É, ser pai é tudo isso. E muito mais ...
É ser a solução para todos os problemas; é consertar os patins da filha que estragaram; é levar o cachorro a passear; é; chegar a casa e esquecer problemas do escritório para se dedicar apenas à família; é escutar as broncas da esposa por causa do comportamento do filho; é ajudar a fazer as tarefas da escola; é ser o mediador nas eternas brigas; é consertar o arranhado no carro que a esposa fez ao entrar na garagem; é levar a filha ao aniversário da amiga; é buscar a filha no mesmo aniversário justamente no meio do jogo da final de campeonato...
Ser pai é tudo isso. Tudo isso e muito, muito mais...
É fazer passar a dor de barriga; é fazer o curativo no esfolado; é levantar no meio daquela noite de inverno para levar o filho a fazer xixi e na hora exata ouvir dele que a vontade passou – isso quando ela já não tiver feito na cama mesmo. É consolar a filha por causa do desentendimento com o namorado; é sair correndo atrás do pediatra para curar aquele mal terrível e descobrir que esse mal nada mais é do que uma bruta cólica por causa da mistura feita na festinha do amigo...
Ser pai é participar das festinhas da escola sabendo que naquele momento os amigos estão reunidos para a pelada semanal; é andar de um lado para outro às 4h da manhã porque o filho ainda não voltou – e ainda ouvir a mulher dizendo – “Viu, eu bem que avisei para não deixar ele sair!”.
Ser pai é tudo isso. Tudo isso e muito, muito, muito mais...

Por outro lado, se tudo isso é ser pai, ser pai é VIVER!

É viver a vida como nós, pais, gostamos que ela seja. Exatamente como nós, pais, queremos que ela seja. É viver a vida da forma como nós, pais, precisamos que ela seja. Precisamos para podermos ser, para os nossos filhos, o esteio, a paz, a tranquilidade, a certeza... Tudo isso exatamente para que eles possam crescer física e moralmente sadios. E se tudo isso é possível – se somos pais, devemos ser, igualmente, a autoridade.

Devemos ser amigos, sem deixar de ser pais. Pais, sem deixar de ser amigos.

Ser pai é ser a autoridade. É não abrir mão dessa autoridade. É ser aquela autoridade que diz SIM, mas que também diz NÃO quando precisa. Ser pai é impor os limites necessários a cada ser humano. Ser pai é mostrar que, além das coisas mundanas, existem outras, sem as quais não se pode viver em sociedade. Valores como honra, honestidade, dignidade, lealdade, respeito, prestabilidade, amizade, cortesia, respeito e proteção à natureza, responsabilidade e disciplina, ânimo, bom-senso, integridade, educação, cortesia...
Ser pai é passar aos filhos a necessidade de se viver com princípios - morais, éticos, religiosos, sejam estes de que natureza forem.

Ser pai é ensinar tudo isso e muito, mas muito mais mesmo...
Porém, ser pai, antes de mais nada, é orientar através do diálogo, da boa conversa, do papo informal...
Ser pai é assumir todas as responsabilidades, inclusive aquelas que ultrapassem o limite de suas próprias forças.
Ser pai é ser aquele super-herói, sem deixar de ser um Ser Humano.
Ser pai é mostrar que nem sempre se acerta, que podemos errar, mas que devemos aprender com nossos erros; Ser pai é mostrar que nem sempre ganhamos, que podemos perder, mas que devemos aprender com nossas derrotas. Ser pai é mostrar que, mesmo nas horas ruins, podemos encontrar algo positivo.
Ser pai é assumir, e levar até o fim, essa missão que é pesada, á árdua, é difícil, mas que foi assumida por sua própria vontade e, finalmente, colher a grande recompensa que é ver que a criança que nós criamos, tornou-se não apenas mais uma pessoa, mas um verdadeiro SER HUMANO.


 "Minha homenagem a todos os pais, mesmo sabendo que existem alguns que, infelizmente, não merecem ser chamados de pai..."

sábado, 23 de julho de 2011

DIGNIDADE E CERVEJA NA BEIRA DA PRAIA

A vida nos reserva muitas surpresas. Sempre. Faz parte de nossa caminhada, de nosso crescimento como seres humanos, conhecer as pedras do caminho para aprender a desviar delas. Se tropeçamos e caímos, levantamos para seguir adiante.
Numa determinada época de minha vida, estava numa maré muito baixa... Ficando em Porto Alegre ou na casa de veraneio, na praia de Cidreira, teria os mesmos gastos. O dinheiro estava curto, muito curto... As crianças não tinham noção da situação e mereciam suas férias...

Lá fomos para a praia... Calor, sol forte, mar convidativo, brincadeiras, passeios nas dunas...
Mas a preocupação permanecia... até que...
Num belo dia, recebo a visita de um morador lá da praia, que, todos os anos, vinha fazer pequenos reparos, como cortar a grama, limpar o pátio, pintar a casa, enfim, era um quebra-galho. Naquela manhã ele viera pedir um auxílio. Queria um dinheiro emprestado para comprar uma caixa de isopor, algumas cervejas, refrigerantes e gelo, para depois revender na beira da praia e faturar um dinheirinho – a prefeitura não exigia, naquela época, nenhum tipo de autorização para isso e ele não tinha nenhum serviço para fazer.
Emprestei-lhe o dinheiro. Aliás, levei-o ao supermercado e comprei-lhe o material necessário. Como ele morava longe da praia, pediu para que eu ficasse com o material na minha casa, que fica há duas quadras do mar apenas, para que ele pegasse no dia seguinte. Tudo acertado, tudo preparado.
Ocorre, porém, que ele, no final daquele mesmo dia, foi chamado para um grande serviço numa outra praia. Já que conseguira carona, foi naquela noite mesmo para lá. A esposa dele ficou encarregada de me avisar. Tudo bem, mas o que faria eu com aquele material – caixa de isopor, gelo, cerveja, refrigerantes...?
Pensei, pensei e resolvi. Vou eu mesmo ser um ambulante – vou vender cerveja, refrigerante, na beira da praia. E fui.

A época não poderia ser melhor. Fim de janeiro, início de fevereiro. Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, Festa de Iemanjá. Cidreira possuía um terminal turístico que recebia centenas de ônibus com turistas e devotos para as festas e nos finais de semana.
Haveria um final de semana mais comprido emendando o feriado de Navegantes – quinta-feira, sexta, sábado e domingo. O terminal absolutamente lotado. Milhares de pessoas.
Lá estava eu... caminhando de um lado para outro. Caixa de isopor no ombro, óculos de sol, protetor solar... E qual foi minha surpresa?  - Muito rapidamente havia vendido tudo. E havia muito tempo pela frente ainda.
Não relutei, fui ao supermercado novamente e comprei mais cervejas, refrigerantes, água mineral e gelo. Fui e voltei muitas vezes. Resolvi, então comprar uma caixa bem maior, uma que cabia dentro do porta malas do carro... Deixava a caixa com as bebidas gelando no carro enquanto vendia as da caixinha... e assim foi.
Naquele feriadão e durante toda a semana. Valia a pena. Havia uma espécie de pacto entre os ambulantes. Todos deviam vender pelos mesmos valores. O lucro era garantido.. Se o valor de compra no supermercado fosse, por exemplo, um real, vendia-se na beira da praia por três.
Para poder curtir a praia também, passei a vender apenas nos finais de semana – sábados e domingos. E assim foi o veraneio todo.
Recebi muitas críticas, ouvi muitos comentários, sempre com a mesma conotação: “Que vergonha! Tu, um professor, como vendedor ambulante!!!”
Jamais precisei provar qualquer coisa para os outros. E não seria agora que o faria.
Eu não estava prejudicando, nem causando mal a ninguém, não estava roubando... Pelo contrário, caminhava o dia todo, com o peso no ombro que ficou logo, logo marcado, assado, o corpo doía... O trabalho, seja ele qual for, só pode dignificar o homem. Nenhuma atividade é mais ou menos que a outra.
No final daquele veraneio, não estava devendo nada a ninguém. O dinheiro das vendas deu para pagar as contas da padaria, da fruteira, do açougue, enfim, todas as s ao veraneio e, mais ainda, paguei o IPTU da casa e comprei todo o material escolar dos filhos (que naquela época, já eram cinco estudantes).

Vergonha??? Que nada, eu sentia era orgulho. Orgulho de poder mostrar, na prática, para meus filhos, que qualquer tipo de atividade é digna, e que não devemos baixar a cabeça para enfrentar as dificuldades. Demonstrar que o trabalho, seja ele qual for, é peça fundamental na construção da dignidade do homem, que contribui para o seu aperfeiçoamento moral, favorece a construção da personalidade, confere-lhe responsabilidade... Que o trabalho faz parte integrante da vida humana para desenvolvimento pessoal. Sem ele há uma carência na dimensão fundamental da sua dignidade.
Essa foi uma oportunidade para mostrar a meus filhos que nada pode nos impedir quando estamos em paz conosco mesmos e que não precisamos provar nada a ninguém, apenas à nossa consciência.
Friedrich Nietzsche já dizia: Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.
                                                           
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Recebi, certa vez, um e-mail de um amigo que continha o texto abaixo. Resolvi partilhar com você:

TODO TRABALHO É DIGNO

Em um largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro. Numa dessas viagens, iam um advogado e uma professora. O advogado como gostava de falar muito, perguntou ao barqueiro:
- Meu caro barqueiro, o Sr. entende de leis?
- Não senhor - respondeu o barqueiro.
O advogado, compadecido desse-lhe:
- É uma pena... perdeu metade da vida!
O barqueiro nada respondeu. A professora, muito social, entra na conversa:
- Sr. Barqueiro, o senhor sabe ler e escrever?
- Também não sei, respondeu o barqueiro.
- Que pena...disse a professora, perdeu metade da vida!
Nisto chega uma onda bastante forte e vira o barco. O barqueiro, preocupado, pergunta:
- Vocês sabem nadar?
- Não! - responderam eles rapidamente.
- Então é pena... concluiu o barqueiro, vocês perderam toda uma vida!

Moral da História:
"Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes" (Paulo Freire). Todo trabalho é digno e deve ser respeitado.