sábado, 1 de janeiro de 2011

"ESQUECERAM DE MIM" versão FAMÍLIA FURASTÉ

     A gente, volta e meia, escuta ou lê histórias que achamos impossíveis ou que são frutos de uma fértil imaginação... Algumas dessas histórias, pelo seu inusitado, acabaram virando, inclusive, filmes de sucesso internacional... Uma dessas histórias, todos devem conhecer, é a do filme “Esqueceram de Mim” que mereceu, inclusive, continuidade nas telas.
 
Pois bem. Aquela era mais uma ocasião festiva em casa; todos estavam se arrumando, ajeitando suas coisas, preparando o material, escolhendo brinquedos que seriam levados – afinal, a família estava se preparando para mais um final de semana na casa de veraneio na praia de Cidreira, a mais antiga praia do Litoral Norte e uma das mais próximas da Capital, onde se encontram uma das maiores reservas de dunas da América Latina, belos balneários de areias fofas e muito esporte.
 








Nessa época, o carro da família já era uma kombi – que já se mostrara pequena para levar toda a família mais suas bagagens.
Por essa razão, aliás, fui obrigado a anexar a ela um reboque... e, acreditem, mesmo assim, faltava lugar para tanta coisa. Era preciso uma seleção criteriosa para que apenas o necessário fosse levado.... Isso que muita coisa ficava na casa de praia - nem chegava a voltar para a capital.

Cada filho se mostrava mais entusiasmado para o passeio que já virara uma rotina; o calor de Porto Alegre, aos finais de semana, parecia ser sempre mais forte, o que nos motivava ainda mais a ir para nosso refúgio à beira mar. Como sempre, cada um era responsável pelas suas coisas. Cada filho arrumava sua bagagem, que era limitada a um saco de viagem para cada um, que não era pequeno, algo em torno de 100 litros, e incluía roupas e brinquedos. Se alguém esquecesse alguma coisa, era problema seu. Essa era a norma... Poderia acontecer (e acontecia) de, em alguma ocasião, algum filho esquecer algo – não havia saída... passaria o final de semana sem o material que esquecera em casa. Isso sempre foi assim – claro que dávamos uma assistência para que não fosse esquecido o essencial, mas, mesmo assim, a responsabilidade era de cada um.
É bom lembrar que eram nove filhos... Imagine-se a quantidade de bagagem. Acrescente-se a essa bagagem toda, mais a dos pais e o rancho que se levava, uma vez que na Cidreira, nessa época, não havia muitas opções. Roupas e alimentação para esse “bando” todo não era pouca... (vou falar sobre isso noutra ocasião).

Mas, naquele dia algo inusitado aconteceria...
Todos estavam prontos, todos ajudando a carregar o carro e o reboque, cada um já se acomodando nos bancos da kombi – havia lugares selecionados com antecedência para não dar brigas na hora de viajar. Uma última olhada nas portas e janelas do apartamento me fizeram subir os dois andares de nosso prédio. Um “pente fino” sempre era feito para ver se tudo estava em ordem – torneiras fechadas, portas e janelas trancadas, lixo recolhido, chaves e mais chaves, cadeados... a porta principal, os portões de ferro... O mesmo ritual de sempre...
Sempre fora assim. A família já dentro do carro, esperando, e a revisão final sendo feita... Porém, nesse dia, enquanto eu fazia essa inspeção, com todos os filhos já sentados em seus devidos lugares no carro, algumas crianças, vizinhas de prédio, estavam brincando pela calçada, jogavam bola na calçada... Ora, como se sabe, criança é criança e, é claro, não resiste a um convite de um amigo para uma gostosa brincadeira... Então...
Depois de fiscalizar tudo, voltei para o carro, examinei o reboque, tudo bem amarrado, tudo bem organizado, tudo em perfeita ordem... No carro portas fechadas, trancadas, todos acomodados, dei a partida no motor e... sob risos e gritos de alegria de todos... partimos... Cidreira aqui vamos nós!!!
Ocorre que, antes de tomar a estrada definitivamente, era praxe passar pela casa de minha sogra para que as crianças se despedissem... Pouco antes de chegarmos à casa da avó, algo pareceu não estar exatamente como devia... parecia estar faltando alguma coisa... Aquele sentimento de vazio que se sente às vezes, e não se sabe explicar... meu sexto-sentido outra vez... Ao parar, ainda sentindo aquela sensação estranha, os filhos descendo... eis a surpresa... e que surpresa !!!!!! Faltava um filho !!!
Isso mesmo... faltava um dos filhos... Havíamos deixado um filho para trás... Pergunta daqui, pergunta dali... surgiu a resposta... Inocente... O Fernando havia descido do carro para brincar na calçada com os amiguinhos! Um irmão esperou que o outro o chamasse, mas ninguém chamou... Surpresa-susto-preocupação... Mas...
Quando Fernando percebeu que estávamos partindo, chamou, gritou, mas, com o burburinho dentro do carro, não foi possível escutarmos. Passada a sensação inicial - foi imediatamente solicitar ajuda na casa de um dos amiguinhos com quem brincava, o Rodrigo, e, sabendo de nossa habitual passagem pela casa da vovó, pediu que ligassem para lá. Sempre nos preocupamos em fazê-los saber - de cor - os telefones de nossa casa e da casa da avó, para uma eventual emergência - e essa era uma delas...
A ligação foi feita e coincidiu de estarmos ainda na calçada do prédio da casa da vovó. Em desabalada carreira sai de dentro de casa a Mana (apelido carinhoso da vovó emprestada) dando-nos a notícia daquilo que acabáramos de perceber. Havíamos esquecido um filho... Foi aí, então, que falei com ele, acalmei e orientei que nos aguardasse, na calçada, brincando com os amigos, até que voltássemos para buscá-lo.
É bom que se esclareça que Fernando contava, nessa época, perto de sete anos de idade. E também é bom que se registre, mais uma vez, o agradecimento aos vizinhos, Antônio e Zilá, que prontamente nos ajudaram nessa aventura em que a vida imitou a arte.
Esse foi o nosso "Esqueceram de Mim", versão Família Furasté...

Fernando - atualmente - em passeio pelo Rio de Janeiro