quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

PALAVRAS AOS FORMANDOS DO CEAV/2012

         A   educação em nosso país está, todos os dias, caminhando por uma estrada perigosa, perigosa demais. Por um lado, vemos estatísticas animadoras, com números que demonstram uma situação bastante positiva; por outro lado, analisando a realidade escolar que temos a nosso redor, aqui no Amazonas e de resto em todo o país, inclusive, e especialmente, nos grandes centros, vemos uma realidade completamente diferente da demonstrada nessas estatísticas, não apenas no ensino público, mas também no ensino privado, a ponto de termos alunos semianalfabetos ingressando em faculdades, e, o que é pior, formando-se em algumas delas.

          Meus queridos afilhados, meus queridos alunos, uma grande responsabilidade, nesse instante, recai sobre nós enquanto escola e sobre os seus ombros, enquanto partícipes de uma nova realidade a partir de hoje. Essa responsabilidade, para nós, escola, é muito grande: tivemos de alcançar resultados em nossas tarefas, tivemos metas a cumprir, planejamentos a serem seguidos, tivemos de confrontar o aproveitamento que promovemos e aquele que realmente obtivemos, especialmente no que diz respeito às bases fundamentais de cada competência desenvolvida. Tivemos, e temos, de mostrar que não fazemos parte dessas estatísticas fantasiosas e, muitas vezes, mentirosas, “fabricadas” simplesmente para constar no papel, mas que somos verdadeiramente capazes de atingir nossos propósitos. Já, vocês, em particular, têm de demonstrar, a partir de agora, que estão verdadeiramente capacitados, que vocês verdadeiramente conquistaram o saber, e não apenas se apropriaram temporariamente dele; que vocês são verdadeiramente donos de um saber que foi adquirido com o tempo, de um saber apreendido enquanto cresciam e amadureciam como nossos alunos.

Muito já se falou sobre o nível do ensino no país, muito ainda se fala. Muito se comenta sobre a calamitosa situação em que está mergulhado o ensino. Muitos levantam o problema, mas poucos apontam soluções.

Felizmente ainda encontramos, por todo esse país, profissionais do ensino, professores, educadores e funcionários abnegados e comprometidos, que dão o seu melhor, que dão seu suor, que dão seu sangue e, alguns, até comprometem sua saúde e sua vida pessoal para que seus alunos apreendam, não só o conteúdo das disciplinas que ministram, mas também sua aplicabilidade e seu alcance social, que dão lições, não só do conteúdo programático, mas também lições de vida. Aqui, no Amazonas, por esse imenso interior por onde tive o privilégio de andar; aqui em Manaus, nas escolas pelas quais eu passei, lecionando ou apenas palestrando, conheci muitos desses professores. Conheci também escolas primorosas, muito bem equipadas, com ótima logística e infraestrutura e com perfeitas condições para o desenvolvimento de um belo e produtivo trabalho.

Porém, nem tudo são flores.

Por todo esse Brasil, encontramos algumas falhas graves – algumas falhas estruturais e, infelizmente, muitas falhas humanas. Vimos escolas, poucas, é verdade, onde a lousa era a própria parede da sala, mesas quebradas, cadeiras improvisadas, onde não havia sequer uma biblioteca – tecnologias como a Internet e meios eletrônicos, redes sociais, nem pensar, ou, quando pensada, equipamentos de última geração amontoados em escolas de regiões onde não há sinal de Internet disponível.

Encontramos igualmente bons e maus profissionais. Encontramos, inclusive, algumas pessoas absolutamente desequilibradas, e algumas desqualificadas, exercendo funções e ocupando cargos que deveriam servir para auxiliar o processo de ensino-aprendizagem – ou seja, que deveriam dar suporte a professores e alunos – professores e alunos que são o núcleo básico da existência de uma escola – mas que fazem exatamente o oposto – mais atrapalhando que ajudando, alguns com nítido objetivo de obter promoção pessoal ou massagear seu próprio ego, invertendo totalmente os papéis, subvertendo os organogramas mais elementares, o que nos faz lembrar, obrigatoriamente, as palavras de Rui Barbosa que nos dizia: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

Achamos muitos cargos e funções sem préstimo algum, falhas na conexão e na tessitura organizacional, amadorismo, favoritismos, irresponsabilidade social, ética e moral. Presenciamos tentativas de se ter uma cultura empresarial numa realidade emocional e ainda paternalista, emoção no lugar da razão, sem fazer menção à falta de comprometimento de alguns de nossos gestores que esquecem a educação e visam tão somente ao lucro. Não posso deixar de mencionar também uma outra situação, o fato de que alguns pais, felizmente poucos, deveriam ser lembrados que, quando enviam seus filhos à escola, eles – os filhos – devem levar obrigatoriamente, junto com o material escolar, a educação que recebem em casa. Enfim, encontramos vários entraves que fazem a Educação ser o que é – esse caos. Em contrapartida, felizmente, o grande Machado de Assis nos apontou uma possibilidade de reverter essa situação, quando disse: "A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal." Na vida, chega um tempo em que a gente aprende que ninguém nos decepciona. Se isso acontece, é porque nós colocamos expectativas demais sobre determinadas pessoas. Cada um é o que é e oferece aquilo que tem e pode oferecer.

Mas, felizmente, no meio de todo esse caos – cá estamos nós, nós enquanto instituição; cá estão vocês, o resultado de nosso trabalho. Cá estamos nós, profissionais que fizemos, e bem feita, nossa parte; cá estão vocês que também fizeram, e muito bem, a sua parte - trilharam seu caminho em meio a essas turbulências todas, venceram obstáculos, galgaram posições, cresceram como pessoas, aperfeiçoaram-se como seres humanos - ricas pessoas, lindos seres humanos.

Queridos afilhados, queridos alunos, em meus mais de 45 anos de profissão – sempre dentro de uma sala de aula – tive oportunidade de conhecer e conviver com muitas pessoas, tive milhares de alunos, nos mais diversos níveis - na verdade, excetuando-se o ensino infantil, atuei em todos os outros. Vi passarem pela minha frente, jovens ambiciosos, adolescentes sonhadores, adultos obstinados. Com todos eles, muito aprendi. E uma das coisas mais importantes que aprendi foi a interessante relação de amor e ódio que permeia, muitas vezes, nossa caminhada. Das reações mais simples às mais exageradas, das mais sinceras às mais fantasiosas.

Um escritor alemão, Hermann Hesse, disse certa vez: "A trajetória de nossa vida pode parecer definitivamente marcada por certas situações. Nossa vida, entretanto, conserva sempre todas as possibilidades de mudança e conversão que estiverem ao nosso alcance. E tais possibilidades são tanto maiores, quanto mais abrigarmos em nós de infância, de gratidão e principalmente de capacidade de amar."

Meus queridos, percebemos, hoje em dia, por onde andamos, uma grave doença social -  a falta de amorosidade, um medo coletivo de amar. Li, em algum lugar, não lembro onde, que “A sensação que nos causa o medo de amar dura alguns segundos, mas a sensação de alguns segundos de amor pode durar a vida toda.” Entretanto, para amar, é preciso um pré-requisito importante, é preciso que o ser humano, antes de tudo, aprenda a crer, aprenda a acreditar. – crer, acreditar em si mesmo. Acreditar que tem capacidade, que tem condições, que pode realizar seus sonhos. Paulo Freire já nos dizia que “o homem que detém a crença em si mesmo é capaz de dominar os instrumentos de ação à sua disposição.” Exatamente, precisamos ter fé, precisamos ter fé em nós mesmos, precisamos aprender que a fé, a crença em nós mesmos pode nos dar o que precisamos. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” e para fazermos acontecer, é preciso definir com clareza as crenças que governam nossas vidas.

Em nossa relação, aqui, com vocês, eu fui muito feliz; vivenciei algumas das mais belas demonstrações de amor, de carinho, de superação: em alguns de vocês, entre vocês, colegas, entre vocês alunos e seus professores e funcionários. Posso dizer que fecho com chave de ouro minha carreira. Vou me aposentar de vez e levo no meu coração cada um de vocês. Como disse Saint Exupèry: "Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." Trago, novamente, palavras de Paulo Freire, que nos diz que “Quem ensina, aprende ao ensinar e quem aprende, ensina ao aprender.”

Ao ir embora, eu estou levando muito de vocês, podem acreditar, eu estou levando todo amor que recebi de vocês, e deixo-lhes a gratidão por ter recebido de vocês algumas das mais valiosas lições de vida. Parodiando Roberto Carlos, se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi aqui com vocês... e não foram poucas....

Para finalizar, deixo com vocês a mensagem de Charles Chaplin: “Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito curta para ser insignificante.”

Vão, meus queridos, vivam suas vidas, amem e sejam felizes.
Ah! E não me aplaudam, porque, nesse instante, eu quero aplaudir vocês.

Falei.