sexta-feira, 26 de outubro de 2018

LEITURA


LEITURA 1
Ler é fundamental. A leitura é o meio de que dispomos para adquirir informações e desenvolver reflexões críticas sobre a realidade. Paulo Freire nos lembra, a propósito, ainda que:

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. 2

Mas é preciso lembrar que não basta correr os olhos pelas palavras. É necessário, sim, compreender o que elas, intrínseca ou extrinsecamente, significam. Além disso, é preciso inferir o que se encontra dito nas entrelinhas, e captar os pressupostos que o próprio texto encerra.
Porém, mais que isso, é necessário que eliminemos quaisquer elementos que possam interferir negativamente em nossa leitura:

- má postura ao ler;
- deficiências de visão;
- barulhos e ruídos externos;
- ambiente inadequado;
- iluminação insuficiente;
- cansaço físico;
- vocabulário muito restrito que exige uso de dicionário.



Thums3 diz que a “leitura é um processo de ler que, envolve, necessariamente, a compreensão crítica do ato de ler.” (grifo do autor) O leitor precisa decodificar os conteúdos em suas diversas nuances estabelecendo o domínio das ideias propostas pela intencionalidade do autor, buscando, não só o que o texto diz em sua superfície, mas mergulhando na unicidade de comunicação contida em sua profundidade.

Pode-se afirmar que há diferentes modos de se efetuar uma leitura. São várias as leituras: 4

a) leitura sensorial: o contato com o material, com o livro, sentindo sua textura, seu colorido, tipos de letras, aspectos gráficos, fotos, ilustrações etc.

b) leitura emocional: leitura que vai produzir emoções a partir do conhecimento do conteúdo. A leitura vai nos agradar ou desagradar, fazer rir ou irritar. É uma leitura ainda informal, sem maiores compromissos analíticos. É uma leitura superficial ainda.

c) ambas as leituras anteriores preparam a próxima: a leitura intelectual. Essa leitura começa por um processo de análise que procura detectar a organização do texto, percebendo como ele constitui uma unidade e como as partes relacionam-se para formar essa unidade. Não se limita a analisar estruturalmente o texto, mas a buscar a intencionalidade do autor desse texto. Procura saber por que o autor escreveu, qual a finalidade, qual a mensagem que ele quis transmitir. Essa leitura implica uma atitude crítica voltada não só para a compreensão do “conteúdo” do texto, mas principalmente ligada à investigação dos procedimentos de quem o produziu.


Enquanto processo, a leitura de um texto está embasada em noções mais amplas composta pela vivência que o leitor possui de mundo, além da habilidade em compreender a linguagem e o vocabulário utilizado. O hábito da leitura e a constante observação daquilo que o cerca, dão ao leitor mais facilidade de entendimento e o domínio sobre o conteúdo.

Para Hühne (1989) 5, a leitura apresenta cinco formas básicas:

a) exploratória: fase em que se lê tudo; o texto inteiro e completo para perceber o todo;

b) analítica: fase em que se examina o texto, buscando-se as ideias que, juntas, expõem o todo; a ideia principal, as ideias secundárias, as partes significativas, o tema, os enfoques abordados, a problematização, a argumentação, as relações estabelecidas;

c) interpretativa: fase em que se compreende o conjunto, interpreta-se, ou seja, colocamos no que o texto apresenta, as vivências que já possuímos; ao interpretar, elaboramos nosso ponto de vista sobre o assunto, questionando-o, avaliando-o, criticando-o;

d) problematização: fase em que se retiram do texto os problemas trazidos, as dúvidas apresentadas;

e) crítica: fase em que se contrapõem ideias – as minhas e as do texto, formulando juízos.

Indo mais além, é preciso que se decomponha o texto em suas partes constitutivas, da estrutura e do conteúdo – num exercício de análise do pensamento proposto. Após, faz-se a recomposição de um novo todo, agora com os juízos formados, coordenando-os conforme a nova linha de importância que foi dada à interpretação. É a fase em que o leitor vai reconstruir uma nova estrutura, ou seja, ele vai recompor o texto utilizando-se das ideias contidas no próprio texto juntamente com as suas. É o resultado da junção das ideias, transformando-as numa outra, nova, independente.



Para uma leitura proveitosa e uma boa interpretação, sugerimos diretrizes apresentadas por Severino: (1986): 6
 
1
LEITURA TEXTUAL
Preparação do Texto

-  análise literal;
- trabalho sobre cada uma das partes: capítulo, seção, partes, parágrafos – leitura para se ter noção geral do conteúdo;
- identificação dos elementos informativos mais expressivos: vocabulário, jogos de palavras, linhas de abordagens, propostas, encaminhamentos;
-  realização de um esquema do texto, sua estrutura;
2
ANÁLISE TEMÁTICA
Compreensão do Texto

- identificar tema-problema, a ideia geradora as ideias secundárias, a auxiliares, a explicativas, a logicidade;
- refazer o esquema lógico do pensamento do autor;
- esquematizar as ideias.
3
ANÁLISE INTERPRETATIVA
Penetração no Texto

- situar o texto em seu contexto geral: social, político, religioso, filosófico, cultural, econômico etc;
-  encontrar pressupostos que justifiquem a abordagem do autor;
- aproximar e associar ideias dos blocos temáticos do texto: parágrafos, partes, capítulos...
-  assumir uma postura crítica quanto à:
- coerência de argumentação;
- realidade dos argumentos apresentados;
- originalidade na abordagem;
- profundidade na análise;
- alcance das conclusões e/ou consequências;
           - apreciação e juízo das ideias;
4
PROBLEMATIZAÇÃO
Discussão do Assunto
- levantar questões básicas e implícitas do texto;
- discutir as questões levantadas pelo autor;
- debater os problemas abordados;
- analisar a organização e influências do texto.



 

1. Texto publicado originariamente em FURASTÉ, Pedro Augusto. Normas Técnicas para o Trabalho Científico. 14.ed. Porto Alegre: Dáctilo-Plus, 2008. p. 28-32.
2. FREIRE, Paulo. apud INFANTE, Ulisses. Do Texto ao Texto. Curso Prático de Leitura e Redação. São Paulo: Scipione, 1998. p. 46.
3. THUMS, Jorge. Acesso à Realidade. Técnicas de Pesquisa e Construção do Conhecimento.  2.ed. Porto Alegre: Sulina/Ulbra, 2000. p. 65
4. Essas alíneas que tratam das leituras foram adaptadas de INFANTE, Ulisses. Do Texto ao Texto. Curso Prático de Leitura e Redação. São Paulo: Scipione, 1998. p. 49-51.
5. apud THUMS, Jorge. Acesso à Realidade. Técnicas de Pesquisa e Construção do Conhecimento.  2.ed. Porto Alegre: Sulina/Ulbra, 2000. p.67
6. apud THUMS, Jorge. Acesso à Realidade. Técnicas de Pesquisa e Construção do Conhecimento.  2.ed. Porto Alegre: Sulina/Ulbra, 2000. p.69, adaptado.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

UMA AULA DE CRASE


                                C   R   A   S   E

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CRASE é um fenômeno em que ocorre a fusão de dois sons vocálicos iguais num só. O acento que se coloca sobre o a chama-se acento grave e serve para indicar que ali ocorreu uma fusão de dois sons vocálicos, uma crase. Geralmente é a fusão de um artigo (a) com uma preposição (a), ou um pronome (aquele, aquela, aquilo).      
                                           Por essa razão, só ocorre diante de nomes femininos.
 
   CASOS   EM   QUE   NÃO   EXISTE   CRASE:

1.   Diante de nome masculino.
O formando escreveu sua dissertação a lápis.

2.   Diante de verbo.
Ela pôs-se rapidamente a escrever tudo que lembrava.

3.   Diante de artigo indefinido.
O médico encaminhou o doente a uma clínica especializada.

4.   Diante de pronomes pessoais, demonstrativos e indefinidos.
A babá entregou o filho a ela sem titubear.
Nunca mais voltaremos juntos a esta cidade.
Não devo explicações a ninguém dessa sala.

5.   Diante de expressões de tratamento (exceto Senhora, Senhorita, Madame e Dona).
Enviou circular a Sua Excelência comunicando o resultado da reunião.
Porém: Dirigiu-se à Dona Marília com todo o respeito.
            Comunicou à Senhorita sua vontade de contratá-la.
            Pediu à Madame Sinclair que voltasse logo.   
            Sempre se refere à Senhora com muita saudade.                

6.   Depois de preposição.
Compareceu perante a diretoria para solucionar o caso.

7.   Com locuções formadas por palavras repetidas:
Ficaram face a face com o inimigo que tanto temiam.

8.   Diante de palavra no plural, estando o “a” no singular.
Dirigimo-nos a pessoas interessadas no desenvolvimento do projeto.

9.   Diante da expressão Nossa Senhora e nomes de Santas.
         Pedirei a  Nossa Senhora que cuide de nós durante o passeio.

CASOS   EM   QUE   A   CRASE   É   FACULTATIVA

1.   Diante de nome próprio feminino.
Mandarei flores à Marília no dia de seu aniversário.
Mandarei flores a Marília no dia de seu aniversário.

2.   Diante de pronome adjetivo possessivo feminino singular.
Telefonou à  sua namorada para avisar do encontro.
Telefonou a  sua namorada para avisar do encontro.

3.   Depois de preposição ATÉ.
Voltaremos, certamente, até à tarde de domingo.
Voltaremos, certamente, até a tarde de domingo.
 

CASOS   ESPECIAIS   DO   USO   DA   CRASE

1.   Quando se subentende a palavra que provocaria crase, a crase permanece.
Aquela senhora usou um modelo à Clodovil no casamento.
Referiu-se à produção de leite e não à de açúcar.

2.   Diante da palavra casa, só haverá crase se estiver determinada.
Depois das atividades, todos foram à casa da colega para jantar.
Depois das atividades, todos foram à casa da esquina para jantar.
Depois das atividades, todos foram à casa amarela para jantar.

3.   Diante da palavra terra não há crase quando for o oposto de bordo.
     Os marinheiros desceram a terra para fazer compras.
mas:  Nas férias vou à terra de meus avós. -
             (nesse caso não está significando o oposto de bordo)

4.   Diante de numeral, crase apenas quando se referir a horas.
O ônibus com os lobinhos chegará às 8h e o dos escoteiros, às 9.

5.   Diante da palavra distância, crase somente se indicar distância exata.
    A barraca foi armada à distância de 50m do rio.
mas: A barraca foi armada a distância razoável do rio.

6.   Crase em todas as locuções formadas por palavras femininas.
Às vezes, às escuras, realizam-se diversas cerimônias.
À medida que o tempo passa, ela fica mais elegante.
À noite, todos os gatos são pardos.

7.   Os demonstrativos àquele, àquela, àquilo são craseados sempre que puderem ser trocados por a este, a esta, a isto, respectivamente (o sentido da frase pode alterar, mas deve-se preservar a sua estrutura).
Dirigiu-se àquele lugar sabendo o que estava por acontecer.
Sempre se refere àquilo com desdém.
Entregue os documentos àquela secretária que está na sala ao lado.


ALGUNS   TRUQUES   PARA   DESCOBRIR   SE   EXISTE   CRASE:

Para termos certeza da presença do fenômeno da crase, podemos usar alguns truques que nos dirão se ela ocorre ou não:

  1º TRUQUE  

Troca-se a palavra feminina por outra que seja masculina e que tenha sentido aproximado: se, depois da troca, surgir ao, na frente da palavra masculina, com certeza, existe crase na frente da feminina.

Referiram-se à excursão com orgulho.  (Referiram-se ao passeio com orgulho.)
Coloque esse documento anexo à petição. (Coloque esse documento anexo ao pedido.)


  2º TRUQUE

Troca-se o  a  por para a,  na,  pela,  da.  Se a troca não alterar o sentido da frase, certamente existe crase.

Pediu à chefia autorização para acampar.   (Pediu para a chefia autorização para acampar).
Eles ficaram esperando junto à barraca.   (Eles ficaram esperando junto da barraca.)


  3º TRUQUE

Quando o a estiver na frente de um nome de lugar, usa-se o seguinte esquema mental: devemos pensar no lugar em questão e imaginar que estamos indo para lá e, depois, voltando de lá:
Quando se pensa:
·    Se vou a ....... e volto da ...... : crase no A.        -       ou seja: existe crase.
·    Se vou a ....... e volto de ...... : crase por quê?  - ou seja: não existe crase.

Veja: O seu sonho é viajar à França e a Portugal.  
         Façamos o raciocínio:
         Vou à França      e  volto   da  França    - então, crase no A.
  Vou a Portugal   e  volto   de  Portugal  - então, crase por quê?
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    A  CRASE   E   O   PRONOME   RELATIVO


A rigor, só existe a possibilidade de crase diante dos pronomes relativos   a qual  e  as quais.
         A pessoa à qual devo meus sinceros agradecimentos já saiu.
         As jovens às quais serão prestadas as homenagens já estão aqui.

Se houver, porém, uma palavra subentendida diante do relativo e essa palavra provocaria crase, então, a crase permanecerá:

          Refiro-me à menina que saiu  e não à que voltou.
Subentende-se:
          Refiro-me à menina que saiu  e não à (menina) que voltou.

Veja-se que, via de regra, se descobre a presença da crase quando se aplica o primeiro dos truques vistos acima:

         A pessoa à qual devo meus sinceros agradecimentos já saiu.
              O homem ao qual devo meus sinceros agradecimentos já saiu.
                       
         As jovens às quais serão prestadas as homenagens já estão aqui.
              Os jovens aos quais serão prestadas as homenagens já estão aqui.
                       
         Refiro-me à menina que saiu  e não à que voltou.
         Refiro-me ao menino que saiu e não ao que voltou.


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