sábado, 4 de dezembro de 2010

AMOR À PRIMEIRA VISTA

O ano era 1970. Vivíamos uma outra realidade – política, social, cultural, estudantil – bem diferente de hoje. O Brasil era diferente. Tudo era diferente.



 Depois de ter feito um vestibular concorrido – sim, naquela época, o vestibular para universidades particulares era tão concorrido quanto para as públicas – estava, finalmente, na Universidade. Eu fizera vestibular em duas universidades, uma particular e outra pública. Passei nas duas, muito bem por sinal, e como recebi uma bolsa de estudos, optei por estudar na universidade particular.
            O deslumbramento era total, e isso por vários motivos. Vinha eu de uma família de recursos bastante reduzidos e não tivera oportunidade de fazer estudos preparatórios em cursinhos; eu estudara, nas horas de folga (folga?), sozinho, nas salas de estudo da Biblioteca Pública de Porto Alegre.
Biblioteca Pública / Porto Alegre
 Essa vitória fora resultado de um esforço enorme que sempre me exigiu muita organização. Eu trabalhava. Era funcionário público estadual, desde os 16 anos de idade. Ou seja: estudava pela manhã, trabalhava pela tarde. Não bastasse isso, eu já lecionava – dava aulas à noite num curso de alfabetização de adultos, na mesma escola onde eu estudava.
Praça da Matriz

Além disso, eu tinha meu grupo de amigos, “matrizeiros” como éramos chamados os jovens que se encontravam, aos finais de semana principalmente, na Praça da Matriz, para organizarem as ‘festinhas’ da época. (Prometo que falarei sobre isso noutra ocasião).
Pois bem, estou numa sala de aula do Curso de Letras, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. São 147 alunos em sala, a totalidade era quase só de mulheres – que maravilha para um jovem de 20 anos! Uma menina mais linda que a outra; uma mais simpática que a outra; colegas de todos os tipos e para todos os gostos. Porém, é bom lembrar que as coisas eram muito diferentes naquela época!!! Não havia essa liberdade total que vemos hoje; havia mais respeito, mais cortesia, mais romantismo. Os jovens eram bem mais educados e polidos; as meninas bem mais pudicas e recatadas. Havia amizade entre rapazes e moças, havia o flerte, a paquera, o namoro, o noivado e o compromisso final, o casamento – tudo muito bem definido, tudo muito bem marcado e, principalmente, respeitado. Não se quebravam regras, nem se queimavam etapas.
PUC/RS - Portal na Av. Ipiranga

O curso transcorria dentro daquela tranquilidade esperada, muitas aulas, muito estudo, muitos trabalhos, grupos, palestras, seminários e, é claro, confraternizações. Havia também o lado político. Diretório acadêmico. Diretório Central de Estudantes. Projeto Rondon. Naquela época havia muitas restrições, censuras, perseguições, enfim, uma época negra para alguns... (Podemos falar disso noutra ocasião também...).


Naquela quarta-feira nossa turma receberia mais um grupo de alunos, que fizeram a matricula depois do prazo, por conta de estágios regimentares das escolas de onde provinham, a maioria de escolas normais - assim eram chamados os cursos de magistério.
A aula já estava em andamento, trabalho em grupo numa aula de Sociologia. O professor, um homem magro, alto, cabelos alisados para trás, loiro, sempre de terno e gravata, eficiente e metódico – era famoso por causa da metodologia que utilizava, com fichas-esquemas para serem desenvolvidas pelos alunos a partir de suas explicações.
Num certo momento,o diretor do curso de Letras, o saudoso Irmão Mainar Longhi, interrompe a aula para o ingresso dos novos alunos. Entram, um a um – ou melhor dizendo – uma a uma... eram mais meninas para a turma... Entravam, encabuladas, devagar, à procura de um grupo para se integrarem. Até que... de repente... de repente...
De repente aparece na porta, uma menina simplesmente linda... bati os olhos nela e fiquei fascinado... Uma menina linda... linda... moreninha, cabelos longos...muito longos, abaixo da cintura, lisos, presos por uma fita branca que realçava ainda mais aqueles cabelos... Seus olhos brilhavam, seu sorriso alastrava simpatia, seu rosto delicado, meigo, angelical, seu andar firme com passos pequenos mas seguros, seus braços envolvendo um arquivo-pasta com um amontoado de papéis, suas mãos delicadas...
Simplesmente linda... linda... linda...

Comentei com uma colega: “Aí está uma menina que me agrada, o tipo de menina por quem me interessaria...” – levei um safanão da colega que disse: Pára de ser maluco, seu bobo, não te animes tanto, ela é noiva... eu a conheço...” Pois bem, retruquei.. ela é noiva, mas não deixa de ser o tipo de menina que me agrada, oras...
Aquele anjo que estava entrando na sala, um pouco insegura ainda, abriu-se num sorriso maravilhoso e veio em direção de meu grupo... meu coração bateu forte, descompassadamente... ela veio... até chegar e abraçar-se a essa colega para quem eu fizera o comentário... as duas já se conheciam, tinham sido colegas na escola.
Desse dia em diante, minha vida mudaria completamente.
Passeata dos bixos 1971 - na Praça da Matriz

No final desse mesmo ano, estávamos namorando (naquela época namorava-se); dois anos depois, noivamos (noivar também era normal!)...
Pombinhos namorando... na casa da sogra...

Mais dois anos - formatura...

Formatura (1973) - sempre juntos...

Depois de formados, fomos trabalhar na mesma escola e, no mesmo ano, casamos... Estamos juntos desde então... 40 anos... e nove filhos (lindos e maravilhosos) !!!

3 comentários:

  1. Ownnnnnnnn que lindooooo prof, acho que nasci na época errada, gostaria de encontrar um amor assim, que fofo, mas infelizmente não há homens assim !! bjocassssss Saudades

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