quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

UMA EXPERIÊNCIA APAVORANTE


Coincidiu, naquela tarde, que a aula de natação das crianças seria pouco antes de minha musculação semanal. Resolvemos, então, ir mais cedo, levar as crianças, assistir à sua aula e, depois aproveitar o clube.
Porém alguma coisa aconteceria e me deixaria marcado por muito tempo. Ainda hoje, quando lembro, fico impressionado.E o personagem, dessa vez, foi o Gustavo:

Gustavo - personagem...
           Minha paixão e eu sentamos no canto oposto da piscina. Piscina térmica, coberta, muitos ruídos, gritaria das crianças, burburinho total...

As professoras, duas, com quase uma dúzia de crianças. Tudo muito bem organizadinho, tudo bem planejado, mas com muitas crianças para tão poucas professoras. Por mais que quisessem, por mais que tentassem, era impossível manter todas sob seus olhares. Mesmo assim, a aula transcorria normalmente. As crianças eram mantidas, algumas sentadas à beira da piscina, outras já dentro d’água apoiando-se no beiral, e duas delas conduzidas pelas professoras para aprenderem a usar braços e pernas. Alegria e concentração totais.
Eu estava devidamente fardado: bermuda e camiseta para a musculação, e, por cima, o tradicional abrigo – calça comprida e agasalho. Nos bolsos, carteira com dinheiro, documentos, lenço; no pulso, um relógio (que não era a prova d’água), e estava usando meus tradicionais óculos de grau. Despreocupado, relaxando, conversando com minha paixão, estava sentado no terceiro degrau das arquibancadas que circulavam a piscina. Observávamos, com orgulho, os três filhos aprendendo a nadar. Era chegada a sua hora de entrarem n’água... estavam, os três, segurando-se na beirada, brincando de afundar e subir, afundar e subir... mas sempre agarrados na beirada da piscina. Eles sempre adoraram água, estavam familiarizados com água, sempre tivemos piscina em casa (daquelas plásticas com 1000 ou 2000 litros... afinal morávamos em apartamento e o terraço não era muito grande...) e tínhamos casa de veraneio em praia de mar...
Naquele dia, porém, algo não iria dar tão certo como sempre dera... Nesse afundar e subir, o filho número 3, o menor dos que estavam ali, numa dessas afundou e suas mãos escaparam da beirada...
As mãos escaparam da beirada e ele começou a se debater com a intenção de se aproximar da beira... mas... quanto mais se debatia, mais se afastava da beirada... os irmãos, absolutamente dentro do espírito de brincadeira, não viram o que acontecia; as professoras, absortas com as crianças que conduziam, não perceberam... mas nós dois – os pais – percebemos, vimos e gritamos...
Nossos gritos não adiantaram.,..
Os ecos dentro daquele recinto não permitiam que fôssemos ouvidos, muito menos entendidos... O desespero começou a tomar conta de nós... Imaginem, ver seu filho debatendo-se numa piscina, debatendo-se cada vez mais alucinadamente e sem ninguém perceber... Sem pensar mais uma vez, saí correndo... corri em direção de onde eles estavam... outras pessoas perceberam... foram também naquela direção, gritando, o que, em vez de ajudar, atrapalhava a compreensão por parte das professoras do que estava acontecendo...
Como eu estava no canto diametralmente oposto, dei metade da volta e, sem pensar, pulei direto n’água, mergulhando em direção do filho que se debatia... Pulei como estava, não lembrei da roupa, dos óculos, dos documentos, do relógio, de nada... só pensava no filho...
Ao vê-lo... Vi aquela cena que passou a ser o meu pesadelo durante meses... seu rosto, suas feições, seu desespero, seus olhos abertos, a expressão do horror...
Quando saí, já saí com ele nas mãos... coloquei-o deitado na beirada da piscina e o fiz colocar para fora a água já ingerida... tossiu, vomitou... o alívio foi geral...especialmente para mim...
Nesse ínterim, juntaram curiosos, vieram as professoras... eu o peguei novamente e recoloquei n’água, comigo, e fui brincar com ele, mostrando que era bom ficar na água, que não havia motivo para se assustar e que ele poderia continuar sua aula, seu exercício... As professoras não queriam que ele ficasse, algumas pessoas me chamaram de doido, de pai desnaturado e outras coisas... mas, graças a essa minha atitude, meu filho, não ficou traumatizado e sempre foi muito “amigo” da água...
Depois de eu insistir, as professoras continuaram sua aula... e eu... bem... eu fui dar um jeito nas minhas coisas... afinal... mergulhara de roupa e tudo... perdi o relógio... mas o restante foi recuperado, inclusive os óculos...
Findo o horário da aula de natação... não pude ir para minha musculação porque não tinha roupa seca... o remédio foi ir para casa, dirigindo enrolado apenas numa toalha...
Ao chegar em casa, a reação veio com força... minhas pernas tremiam... minhas mãos tremiam... eu tremia todo... Depois de um banho tentei dormir, mas, cada vez que fechava os olhos, via o rostinho de meu filho – assustado, angustiado, apavorado... Essa visão me acompanhou durante meses...
Uma experiência, entre muitas que passaria com os filhos...
Experiências que me deram, cada uma, a certeza da presença de Deus em nossas vidas...
Gustavo - atualmente - curtindo uma piscina...


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