sábado, 18 de dezembro de 2010

A MÃO DE DEUS

            Aquela noite foi realmente significativa.
Sou uma pessoa de seguir o chamado “primeiro impulso” – aquela vontade, aquela orientação inexplicável que vem de dentro de você, e você não sabe explicar de onde ela vem. Aprendi, com a vida, a seguir sempre esse impulso, mesmo sem entender como, nem por quê. Até hoje...
            Meus filhos ainda eram pequenos... uma fileira linda...quando aconteceu um fato que marcou significativamente minha crença nesse impulso interior.

Filhos sentados no vaivém lá em Belém Novo
BELÉM NOVO
            O bairro de Belém Novo, para quem não conhece, é um bairro afastado do centro de Porto Alegre, às margens do Rio Guaíba. Muito verde, pouca gente, um cenário deslumbrante, local privilegiado que acabou se tornando refúgio para quem prefere tranqüilidade e segurança, apesar da distância em relação ao centro da cidade (cerca de 40 km).
            Em Belém Novo existem diversas sedes campestres de várias entidades, públicas e privadas, que são utilizadas especialmente aos finais de semana. E foi numa dessas sedes que fomos à comemoração do aniversário de uma sobrinha. Lá estávamos todos, festejando, brincando, nos divertindo... Festa animada – churrasco, claro... muitos doces, bolo, tortas, brincadeiras, cantorias, balóes, algazarra, muitas crianças, enfim, tudo o que um aniversário de criança tem direito... Para os adultos, comidas e bebidas, tudo à vontade... Saliento que bebida, para mim, não representa problema já que eu não bebo!
            Já era madrugada, devia ser entre duas e três horas, quando decidimos ir embora, apesar de haver apartamentos à disposição para passarmos a noite lá mesmo. Não ficamos porque, para ajeitar nove crianças mais dois adultos, não é tarefa muito fácil...
Nessa época, o carro que eu possuía era uma Caravan. A Caravan era um modelo Station Wagon, perua de porte grande, derivada do Chevrolet Opala.

Para que pudesse levar todas as crianças, à noite, baixava o banco traseiro, forrava com colchonetes, cobertores e elas vinham dormindo ali mesmo. Eu nunca abusei da velocidade, sempre dirigi com o maior cuidado e, ainda não se falava em cintos de segurança nos veículos. Aquele era um excelente carro em sua época, grande, espaçoso e que permitia que eu levasse a turminha e mais a bagagem necessária... Claro que, conforme eles foram crescendo, ela ficou pequena, e isso me obrigou a trocá-la por uma Kombi.

Resolvemos ir embora. Despedidas de praxe... crianças  acomodadas... bagagem ajeitada... tudo certinho...
Mas algo estava me incomodando... Aquela sensação estranha de que algo não estava certo... Parecia que algo havia sido esquecido... Antes de sair, retornei e fiz uma checagem geral... tudo estava certinho... mas continuava preocupado...
Começamos, então, nosso retorno, e aquela sensação estranha incomodando...
Naquela hora, não havia qualquer tipo de movimento nas ruas; o carro permitia o desenvolvimento de uma velocidade razoável, mas eu não andava acima dos 90km, especialmente quando as crianças estavam a bordo.
Na saída do bairro, toma-se logo a estrada que leva ao centro da cidade. Uma pista bem cuidada, de mão dupla, com acostamento e, à direita da pista um valão por onde passa um pequeno córrego. Há, ali, uma curva acentuada à esquerda com o valão à direita. Quem entra nessa curva com uma velocidade muito alta, corre o risco de perder-se e cair no valão.
Lá íamos nós, Marilia e eu, comentando sobre a festa, e as crianças, já dormindo... e eu sentindo aquele mal-estar, aquela sensação de que algo estava errado.
Não tenho o hábito de parar à beira da estrada, especialmente à noite, mas, naquela noite, por estar sentindo aquela sensação estranha que aumentara depois que saímos da festa, não sei por que, resolvi parar. Entrei no acostamento e parei. Até hoje nao sei dizer por que resolvi parar. Não acontecera nada, não ouvimos qualquer barulho ou ruído no carro, nada de estranho. Somente me deu vontade de parar e eu parei. Desci do carro. Abri a tampa do porta-malas, olhei as crianças, examinei tudo. Examinei o carro, pneus, e ... nada... Nada de errado. Resolvi, então prosseguir.
Entro no carro. Dou a partida e começo a andar.
Pois foi aí que aconteceu... Não havia andado cinco metros quando aconteceu...

           Para quem não sabe, o sistema de suspensão do Opala, e da Caravan, era apoiado numa “balança”, onde se situa o amortecedor, o sistema de molejamento e as rodas...
        
           Pois, eu havia andado uns cinco metros quando ouvimos um estrondo... o carro sacode e mergulha na terra... arrastando-se ao chão... Havia quebrado a balança da suspensão do carro, e a roda soltou-se... o eixo arrastou pelo chão...
          Se eu tivesse continuado a viagem... se eu não tivesse parado, certamente faria aquela curva a uma velocidade entre 60/80km. Com o peso do carro, com a força centrífuga sobre a roda, com certeza a balança teria rompido, o eixo rasparia pelo chão, eu perderia o controle do carro e, fatalmente teria caído no valão ou capotado...  um acidente, sem dúvida, que teria resultados trágicos...
           Por que eu parei? Que força foi aquela que me fez parar?  Que mistério é esse? Meu impulso foi maior que eu... Um impulso a que procuro obedecer sempre...
          Sei que é uma questão de fé, de foro pessoal, mas para mim, essa foi, mais uma vez, a presença da mão de Deus sobre mim e minha família.




Um comentário:

  1. Professor Furasté:

    A sensação que tive após ler o episódio "A mão de Deus" foi de que o Sr. e sua família passaram por um lance quase sinistro!!! A paradinha antes da curva foi simplesmente louca de especial. Desejo que sua mente continue sendo abençoada e iluminando tantas outras mentes com relatos siginificativos como esse. Abraço fraterno. Luciane M. Schmitz, admiradora de Porto Alegre/RS

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