quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Alarme Falso... ou Crônica de um "Mico" de Verão !

Amanhecer no mar de Cidreira... Sol, lindo e radiante...
                     Aquele era apenas mais um dia de sol forte, praia limpa, muita gente de um lado para outro... a beira-mar parecia um formigueiro... guarda-sóis coloridos, bate-papo solto entre os pais, fofocas recentes entre as mães, muita alegria e brincadeiras entre as crianças... Impressionante a capacidade que as crianças têm de se enturmarem imediatamente nas brincadeiras... e eles acabam se entendendo muito bem, quem atrapalha, à vezes, são os adultos.
Praia lotada em pleno veraneio...
             Minha turminha já estava, desde cedo (muito cedo!) na beira da praia... Essa é uma das vantagens de se ter casa perto do mar... Como eles estavam acostumados a uma rígida rotina de condutas, sabiam muito bem até onde podiam avançar em suas “andanças” pela praia, ou em suas “aventuras” mar adentro – sabiam, também, o alto preço de uma desobediência às normas estabelecidas.
Em pé, Helena - Agachado, Chico - Ajoelhados, Fernando e Elisa tendo no meio, Marina
            Os “grandes” foram liberados cedo, desde que uns cuidassem dos outros, como sempre... Os “pequenos” iriam logo depois. Isso já se tornara um hábito, quase uma rotina que se repetia o veraneio inteiro...
              Mas aquele dia viera para ser um dia diferente, algo tinha de acontecer... e aconteceu...
Chico, Elisa, Marina e mamãe Marília
             Um dos filhos, não lembro bem qual foi, voltou da praia para buscar algum brinquedo esquecido na pressa de chegar ao mar. Perguntas daqui, indagações dali – como estavam todos, o que estavam fazendo, se estavam se comportando, enfim... as questões de praxe de pais que deixam as responsabilidades a cargo de seus próprios filhos – e que cobram o seu cumprimento. Ao relatar a situação das brincadeiras, com quem estavam, o que faziam, foram mencionados os nomes dos irmãos, um a um... até que...
 Os maiores cuidam dos menores, sempre... essa era a lei máxima! (e ainda é!)
 Na foto, falta o mais velho, o Gilberto- que ficara em P.Alegre.
           Faltava um filho... os “pequenos” – o Chico e a Marina- não tinham ido. O Chico estava ali, bem em nossa frente, mas a Marina??? Onde está a Marina??? Ela, como caçulinha, sempre mereceu uma atenção especial dos irmãos, orgulhosos da maninha – tão pequena, tão inteligente e tão independente, já com aquela idade...
Onde ela está?

Teria ela ido atrás dos irmãos? Procura daqui, procura dali... e nada!
           Manda chamar todos na praia...
          Inquérito geral: Onde está a Marina? Susto... perplexidade... ninguém sabia da Marina. Ninguém a viu, ninguém...
         Corre pra cá, corre pra lá... o desespero já ia batendo... Chama vizinho... pergunta... indaga e... nada... Chama outro vizinho... nada... Procura o salva-vidas – era para lá que se encaminhavam as crianças perdidas - e nada... consulta banhistas, pessoas conhecidas... nada... corre-corre... Imaginação solta... e como se tem imaginação numa hora dessas... 
Alguém lembrou que um dos irmãos, o Fernando, fora visitar a sua dinda que tinha casa na mesma rua, duas quadras adiante, e depois foi se juntar aois irmãos na beira do mar. Será que a Marina não foi atrás dele? Um grupo de busca foi até lá... foi e voltou... foi novamente, andou pelas redondezas... e... nada!
Uma viatura da Brigada Militar passava pelo local. Os guardas passam radio... nada... Mobilização geral na rua... todos os vizinhos, crianças e adultos em busca da Marina... Onde ela estaria???
           Volto já quase em pânico para casa a fim de pegar o carro e dar umas voltas mais rápidas pelo quarteirão, enfim, vasculhar... sei lá... fazer algo mais contundente... Impressionante como numa hora dessas os pensamentos mais assustadores nos assaltam... Pego a chave do carro que estava no pátio, aos fundos da casa.
Casa - personalizada!...e a Marina no portão... (foto da época)
             A casa era uma daquelas pré-moldadas, de fibra de vidro. Eu mandara fazer, nos fundos, um “puxado” agregado à casa que ia de lado a lado no terreno  – era um salão enorme (mais de 60 metros quadrados) que servia como garagem, sala de estar, sala de jogos, copa, cozinha, churrasqueira, claro... Enfim era uma miscelânea, uma “bagunça” só... mas muito aconchegante, inclusive no inverno. Havia até uma cama, daquelas antigas, torneadas, embaixo da janela e que servia para uma boa sesta depois do almoço (ou a qualquer hora!)... Era ali que passávamos boa parte de nossos dias quando não estávamos na beira da praia... Churrascos, chimarrão, bate-papo, jogos, brincadeiras, músicas, leituras, muitas leituras...  O restante da casa era usado apenas para dormir...
Eu estava reformado justamente a entrada da garagem e seria difícil sair dali com o carro... mas... numa hora dessas, passo por cima de tudo... Quando estava manobrando, lembro que precisava carregar comigo documentos do carro, carteira... Eu estava disposto a passar por cima de um monte de pedras, sair correndo, andar por todos os lados, mas, instintivamente, não queria sair ser abordado sem documentos – era só o que me faltava....
Quando entro em casa... a surpresa... e que surpresa...
Chico e Marina, em foto da época...
            O coração bateu mais forte, uma sensação indescritível tomou conta de mim... Olhando para a caminha – aquela que convidava para um bom descanso... uma cochilada gostosa... o que vejo????

A Marina !!!!
Mamãe, maravilhosa como sempre, com a Marina recém-nascida...
           Ela estivera o tempo todo ali... deitada, inocentemente dormindo, inocentemente esperando o momento de ir conosco para a praia, inocentemente aproveitando aquela caminha que todos adoravam curtir. Afinal, porque ela não poderia curtir também? Devia estar cansada das brincadeiras... ou simplesmente resolvera relaxar, oras...
          Foi aí, então, que, junto com o alívio, percebi que eu estava, agora, com outro probleminha! - o mico! Os vizinhos, os parentes, as pessoas, todos estavam correndo atrás dela... procurando.. e agora? Como avisar a todos que ela estava bem e que estivera em casa o tempo todo? Como dizer a todos que fora tudo um engano... que ela estivera o tempo todo ali, dormindo como um anjo?

            Não havia outra saída, chamei o pessoal e mandei avisar que ela aparecera em casa. Aos policiais, pedi desculpas, dei explicações, aleguei preocupação de pai - mas não me livrei de um puxão de orelhas... Muita gente veio ver a Marina, queriam saber se estava bem, como voltara, enfim, saber detalhes... Perguntas e mais perguntas... muitas perguntas...
Abraços, choro (de alegria), risos, euforia ... a Marina não entendia, claro, o que estava acontecendo... por que todos que chegavam a estavam abraçando e beijando? Por que aquela confusão toda em torno dela???  O  que ela fizera???
Marina em seu ensaio fotográfico...
Até hoje não esqueço como foi desagradável a sensação de passar por uma situação daquelas e, principalmente, pelo mico de ter de explicar depois que fora um “alarme falso”... Que o excesso de preocupação nos cegou para dentro de casa e nos fez olhar para a rua, e pensar no pior...
Por que se pensa logo no pior???
Quem é pai, quem é mãe... deve saber do que estou falando...
Marina, atualmente... linda como sempre...










Um comentário:

  1. Muito interessante a crônica!
    Minha mãe ja passou por isso com os dois filhos, de TRêS!!!

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