domingo, 7 de novembro de 2010

ESCOTEIROS - UM ACAMPAMENTO INESQUECÍVEL

Primeira parte
Permitam-me os meus seguidores que eu faça, vez ou outra, algum comentário
sobre fatos e acontecimentos que foram marcantes em minha vida.
E exatamente por terem sido marcantes, quero compartilhar com todos vocês.

Um desses fatos marcantes ocorreu num final de semana – 13-14 de dezembro de 1997 - quando eu ainda era Presidente do Grupo Escoteiro Marechal Rondon – 108/RS, em Porto Alegre. Claro que vários fatos marcantes aconteceram, mas houve um em especial que marcou não só a minha vida, mas a de muitos jovens e até de alguns pais.
Como todos sabem, um grupo de escoteiros seguidamente promove acampamentos para que os jovens possam vivenciar experiências junto à natureza aprendendo a respeitá-la e preservá-la. Mas também ocorrem acampamentos com a finalidade de integrar o grupo como um todo, envolvendo jovens, chefias e, em alguns casos, também pais. Pois foi num desses acampamentos que ocorreram várias situações. Convido a todos que participaram, a relembrar comigo alguns dos episódios que ocorreram nesse acampamento em especial.
Acampamento de final de ano, encerramento de atividades. O local escolhido foi o camping Palmm&Hepp, às margens do rio Forqueta, no município de Marques de Souza, a 150 quilômetros de Porto Alegre. Participaram os elementos juvenis do grupo e seus pais, num total de mais de 200 pessoas. Várias atividades previstas, preparativos cuidadosamente efetuados, viagem de reconhecimento do local, reuniões com chefias, reuniões com pais, envolvimento da comunidade local – prefeitura, hospitais de plantão para qualquer tipo de emergência, salva-vidas no camping, enfermeira contratada para estar junto aos jovens, polícias civil e militar, incluindo polícia rodoviária – todos mobilizados dando apoio, enfim, todas as medidas de segurança necessárias para proteger jovens e adultos de qualquer eventualidade. Um trabalho de meses de planejamento para o qual contei com a ajuda inestimável de um grupo seleto de pessoas – pessoas muito especiais, a maioria jovens do próprio grupo.
Acampamento já em andamento, tudo correndo conforme o planejado. Na atividade de abertura, o tempo castigava com um sol inclemente que fez vários jovens e alguns adultos sentirem-se mal a ponto de desmaiarem por causa do calor.

Logo em seguida, os jogos previstos.
Tudo era diversão... especialmente na água...

Tudo corria bem até que...
No Rio Grande do Sul, as tempestades de verão chegam sem dar aviso, o céu transforma-se de um azul anilado num cinza escuro, nuvens carregadas surgem de repente, tudo acompanhado de rajadas de ventos violentos com velocidades arrasadoras. Mas há, algumas vezes, em que isso não ocorre bem assim. Há vezes em que os ventos chegam antes, arrasando, derrubando, entortando tudo que encontram pela frente, seguido por um cortejo devastador de chuvas e trovoadas.
Como dizia, no acampamento tudo corria bem. Os grupos, compostos por adultos e crianças (de sete anos em diante), foram divididos e encaminhados a suas bases. Nesse ínterim, houve uma parada na brisa leve que corria, e o céu começou a escurecer, porém era um acinzentado sem expressão que não indicava uma tempestade para tão logo. Chefias convocadas, análises feitas, decisão tomada, autorizei o prosseguimento das atividades.
Ledo engano!
Os grupos já se dirigiam, alegres, a seus destinos. Um deles, para chegar à sua base, precisava atravessar uma “pinguela”- espécie de ponte pênsil, suspensa por cabos de aço, bem ao estilo Indiana Jones, com mais de 160 metros de comprimento e uma altura que chegava aos 20 metros sobre o rio e as rochas...
Pois não é que o tempo conspirou contra nós!
Quando esse grupo estava atravessando a pinguela, exatamente com todos seus elementos em plena travessia, sem avisar, sem pedir licença, o vendaval chega –- com toda sua fúria característica, dobrando árvores, levantando poeira, sacudindo tudo e arrastando o que podia...
Eu estava ainda no centro do campo de futebol de onde avistava, ao longe, parte da pinguela. Quando sinto o vento, olho por entre as árvores e... fico gelado... atônito... num segundo de verdadeiro pavor, vejo a pinguela sacudindo como rabo de pandorga no ar... e não havia, à minha vista, ninguém sobre a ponte... ela estava vazia – vazia e sacudindo muito!!! Dizem que, nesse instante, larguei tudo que eu tinha nas mãos (até hoje nem lembro o que eu carregava) e que corri para a ponte. Eu queria me certificar do que acontecera, queria saber dos elementos que lá estavam.
O vento batia forte, barracas sacudiam, papéis, folhas e muitas outras coisas voavam, as crianças (os lobinhos – de sete a dez anos) precisavam de prioridade; nesse momento pais corriam, chefias corriam, todos corriam para se proteger e proteger o material do acampamento... Algumas mães, como era de se esperar, desesperadas; pais querendo ajudar, mas que, por falta de treinamento, acabavam mais atrapalhando que ajudando. A confusão era tanta que dava medo mesmo nas pessoas mais experientes.
Nessas horas é que se percebe a validade de um treinamento bem feito, levado a sério. As chefias - todas elas - souberam fazer exatamente o que precisava ser feito, para salvar, orientar e, principalmente, acalmar o ambiente. Os próprios jovens - escoteiros, seniores e pioneiros - agindo com serenidade e com eficiência.
Eu estava correndo para a ponte... chegando lá – grande alívio! A chefia saíra-se muito bem. Heroicamente bem. Ao perceber o vento, ordenou que todos deitassem, se agarrassem aos cabos e rastejassem até o fim.
Apesar do balanço da ponte, foi uma tarefa simples de se realizar, uma vez que os elementos estavam familiarizados com esse tipo de procedimento. Claro – nunca tinham vivenciado algo assim! E, dessa forma, todos chegaram ao outro lado sãos e salvos. Um alívio e tanto.
Só então voltei para verificar os outros. O vento aliviara... as primeiras lufadas sempre são as mais fortes. A chuva começara... era preciso examinar as barracas, refazer os campo... Afinal o acampamento precisaria continuar, estávamos ainda no primeiro dia e muitas aventuras ainda seriam vividas por todos...
À tardinha, uma reunião de chefia para avaliar o acontecido. Nada de grave – apenas uma barraca havia se rasgado – um galho de árvore caíra sobre ela - alguns papéis que se perderam ao vento, algumas roupas molhadas, pais e mães acalmados...
Ninguém ferido, ninguém machucado... apenas com a lembrança que carregamos até hoje e que ainda vamos levar por muitos anos. De um acampamento que acabou sendo, sem dúvida, inesquecível. Para todos, e muito especialmente, para mim.
(O Grupo todo atravessando a pinguela para o culto de encerramento na capela no município de TRAVESSEIRO...observar a cor da água no dia seguinte, depois da tempestade! )

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