Numa certa época de minha vida, eu lecionava, em Porto Alegre , pela manhã e pela tarde, numa escola de segundo grau (era assim que se denominava o atual Ensino Médio). À noite, eu dava aulas em dois cursinhos Pré-Vestibular que possuíam sede em Porto Alegre e filiais em algumas cidades do interior. De segunda a sexta-feira, eu viajava para essas sedes – Gramado, Taquara, Osório, Estrela e Bento Gonçalves – todas distanciando de Porto Alegre em torno de 100 quilômetros .
Dava minhas aulas pela manhã e pela tarde e ainda viajava para o interior - eu mesmo dirigia. Para completar, o carro que eu possuía na época, era uma Kombi (a velha e querida Kombi de tantas histórias...). Nessas viagens levava sempre comigo um filho ou uma filha para me acompanhar.
Velha companheira de viagens... Aqui em frente à casa antiga em Cidreira... |
Uma dessas viagens, era para o município de Osório, localizado no litoral do estado, a 95 quilômetros de Porto Alegre.
Vista de Osório do Morro da Borússia |
Em Osório, localiza-se o maior projeto de produção de energia eólica da América Latina, o Parque Eólico de Osório, que tem potência instalada para a geração de 150 megawatts, ou 425 milhões de kilowatts/hora por ano, o que é suficiente para abastecer meia capital gaúcha por doze meses ou 650 mil residências. Atualmente é o responsável pela produção de mais de 50% da capacidade eólica total instalada no território brasileiro.
Trecho da FreeWay, Lagoa dos Barros e Parque Eólico... |
FreeWay - BR 290 |
Ônibus tombado na freeway pela força do vento .. |
Num belo dia, depois de abastecer a Kombi, lá fui eu, FreeWay afora, acompanhado de minha filha Helena, dar minhas aulas no cursinho
Destruição ao longo da estrada... |
Na volta para Porto Alegre – as aulas terminavam às 22h30 – a chuva continuava forte, e os ventos também... Na estrada, pouco movimento por causa do horário e por causa do tempo. E eu não podia ficar esperando, já que no dia seguinte a rotina continuaria... aulas pela manhã, tarde e noite...
Com muito cuidado, lá íamos nós, Helena e eu. A Kombi sacudia, dançava, rebolava.. e muito. Balançava de um lado para outro, e eu precisava manter uma velocidade razoável, já que, numa situação assim, correr faz com que se perca o controle do veículo; se andar devagar demais, o vento o tomba... E, lá íamos nós... apreensão, tensão, medo... Relâmpagos, trovoadas, rajadas de chuva, lambidas de vento... Um horror... Quando chegamos no trecho perto da Lagoa dos Barros, o vento apertou... As rajadas ficavam cada vez mais fortes e desordenadas. O limpador de pára-brisas quase não dava conta da quantidade de água que batia no vidro dianteiro da Kombi, então aconteceu...
De repente...
Você já assistiu daqueles shows onde pilotos experientes fazem acrobacias com carros em que eles os dirigem inclinados sobre apenas duas rodas...
Pois é...
Uma forte rajada de vento fez a Kombi sacudir e quase virar... Outra rajada mais forte e lá fomos nós... a Kombi não chegou a virar... mas ficou em duas rodas... isso mesmo, inclinou e ficou em duas rodas... Questão de segundos...
Quando algo assim acontece, a reação automática do motorista é girar a direção do carro para o lado das rodas que estão no ar, na tentativa de “puxar” o carro para a posição normal.. e esse é o erro...Jamais se pode fazer esse movimento, pois ele fará a roda dianteira, que está suportando o peso do carro, curvar-se ainda mais para dentro e virar de vez, tombando o carro.
Essa foi mais uma daquelas ocasiões em que percebi a presença da mão de Deus me ajudando.
Eu não pensei em nada, apenas fiquei apavorado e puxei (Deus me fez puxar ou puxou para mim) a direção em sentido oposto, o que fez com que a Kombi permanecesse andando de 15 a 20 metros em duas rodas para depois voltar à posição normal...
Depois disso, andei mais uns500 metros e parei a Kombi embaixo de um viaduto, para nos proteger da chuva e recuperar o fôlego... Olhei para a Helena, ele estava pálida, branca, opaca... e eu... não conseguia fazer meus joelhos pararem de tremer, aliás não era só os joelhos que tremiam... as mãos, os braços, as pernas... tremia tudo... Vocês podem estar rindo... mas foi um susto enorme... ficamos ali um bom tempo esperando a tempestade parar. Quando os ventos pareciam ter acalmado um pouco e a chuva amainado, continuamos nossa volta para casa... Havia ainda muitas rajadas de ventos e, para não ter mais surpresas como aquela, posicionei a Kombi ao lado de uma carreta, carregada, que passava, e andei um bom trecho ao seu lado, usando-a como se fosse um escudo. Claro que dormir naquela noite foi difícil... não preciso dizer por quê...
Depois disso, andei mais uns
Eu e Helena, minha copiloto dessa e de muitas outras viagens... |
Eu já era fã do teu livro sobre normas para trabalhos científicos e agora, lendo o blogue, gostei muito também.
ResponderExcluirParabéns e muito sucesso!