... mas escrever sobre o quê?
Hoje acordei com vontade de
escrever. Até aí, tudo bem. Acordei cedo, tomei meu café, limpei a piscina, afaguei
com os netos, ajeitei algumas coisas e vim para a frente do computador. E
agora? Sobre o que vou escrever?
Posso escrever sobre essas
férias, com a presença dos netos - agitados, brincalhões, inquisidores,
aprendizes, descobridores... Se um brinquedo estraga, quebra ou enguiça – “leva
para o vô que ele conserta”, e o vô tem de dar um jeito, seja ele qual for,
para não frustrar as esperanças do neto, nem que para isso tenha de usar de
certos “artifícios”. Outro dia, um netinho trouxe um brinquedo totalmente
destruído, falando, com um ar angelical: “Vô, quebrou, eu juntei todos os
pedaços porque sei que tu podes arrumar.” E aí? O que fazer? Dessa vez, a sorte
e a casualidade me ajudaram (ainda bem!). No dia anterior, passando numa loja
de brinquedos, vi um brinquedo exatamente igual ao que estava destroçado. Mera
coincidência, e adivinhem! Claro, não falei nada e, logicamente, lá fui eu...
comprei um brinquedo novo e devolvi para o neto como se tivesse consertado o
quebrado. O brilho dos olhinhos dele não há o que pague.
É,
mas não é sobre isso que quero escrever.
Quem
sabe escrevo sobre os 52 anos de magistério que estou completando? Sobre minhas
experiências como professor. Sobre as escolas por onde passei: foram bastantes,
particulares e públicas. Sobre as
pessoas que conheci, os alunos que se tornaram famosos e importantes:
ministros, juízes, desembargadores, professores, médicos, dentistas, advogados,
misses, apresentadores de televisão, repórteres, empresários e, até, políticos...
Para falar sobre as experiências no magistério, seria necessário muito espaço,
isso só para falar das coisas boas. Porém, haveria um grande espaço também para
as coisas ruins, as frustrações, os sonhos desfeitos, os engodos pelos quais os
professores passam, as falcatruas que sofrem, as promessas não cumpridas pelos
gestores da Educação...
Hummm... acho bom não falar sobre
isso...
De repente, posso escrever
sobre minha experiência no Amazonas. Minha querida Manaus! Um sonho de criança:
conhecer a maior floresta tropical do mundo. Desde pequeno, na escola primária
ainda, a Hileia Amazônica me fascinava. O gigantesco rio Amazonas, o rio Negro,
o rio Madeira, o rio Acre, o rio Branco, os igarapés, os igapós, o pirarucu, as
onças... O majestoso, lindo, deslumbrante Teatro Amazonas... Confesso que, por
muito tempo, tive aquela visão distorcida que geralmente quem é do sul tem
sobre a região: índios, onças e árvores... Mas, depois de estudar mais
detalhadamente a região, ainda no segundo grau, minha visão mudou... e muito...
fazendo minha paixão aumentar. Depois de anos, acabei tendo a oportunidade de
lá morar por algum tempo. E, morando lá, pude conhecer tudo isso e muito, muito
mais. Roraima, Rondônia, Venezuela, Guiana... Algumas reservas indígenas como a
Yanomami, a Waimiri-Atroari... alguns parques e reservas naturais... Mas o que mais me fascinou foram as pessoas:
um povo lindo, receptivo, caloroso... Apesar do calor, um povo que vive feliz,
que trata as pessoas com urbanidade, apesar de ser, ainda, explorado por grupos
remanescentes da velha “política do coronelismo”, do “carteiraço”, do poder
econômico mandante...
Não... não é sobre isso que vou
escrever...
Já sei, vou falar de
política... Não... Não vale a pena. A sujeira, a bandalheira, a bandidagem é
tão grande, que não vale a pena escrever sobre esse lixo. Vou dar minha opinião
em outubro, com meu voto.
Essa indecisão me faz lembrar
de tanta coisa ... e não chegar a lugar algum! Vou pensar mais um pouco e, está decidido:
hoje, não vou escrever. Vou deixar para outro dia, quando a inspiração for mais
generosa comigo...
Há algo para eu fazer imediatamente - vou
lá dar um mergulho no mar com meus netos...