LEITURA 1
Ler é fundamental. A leitura é o meio de que dispomos para adquirir
informações e desenvolver reflexões críticas sobre a realidade. Paulo Freire
nos lembra, a propósito, ainda que:
A
leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura
desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e
realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por
sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o
contexto. 2
Mas é preciso lembrar que não basta correr os olhos pelas palavras. É
necessário, sim, compreender o que elas, intrínseca ou extrinsecamente,
significam. Além disso, é preciso inferir o que se encontra dito nas
entrelinhas, e captar os pressupostos que o próprio texto encerra.
Porém, mais que isso, é necessário que eliminemos quaisquer elementos que
possam interferir negativamente em nossa leitura:
- má postura ao ler;
- deficiências de visão;
- barulhos e ruídos externos;
- ambiente inadequado;
- iluminação insuficiente;
- cansaço físico;
- vocabulário muito restrito que exige uso de
dicionário.
Thums3 diz que a “leitura é um processo de ler que, envolve, necessariamente, a compreensão
crítica do ato de ler.” (grifo do autor) O leitor precisa decodificar os
conteúdos em suas diversas nuances estabelecendo o domínio das ideias propostas
pela intencionalidade do autor, buscando, não só o que o texto diz em sua
superfície, mas mergulhando na unicidade de comunicação contida em sua
profundidade.
Pode-se afirmar que há diferentes modos de se efetuar uma leitura. São
várias as leituras: 4
a) leitura
sensorial: o contato com o material, com o livro, sentindo sua textura, seu
colorido, tipos de letras, aspectos gráficos, fotos, ilustrações etc.
b) leitura emocional:
leitura que vai produzir emoções a partir do conhecimento do conteúdo. A
leitura vai nos agradar ou desagradar, fazer rir ou irritar. É uma leitura
ainda informal, sem maiores compromissos analíticos. É uma leitura superficial
ainda.
c) ambas as leituras anteriores preparam a
próxima: a leitura intelectual. Essa
leitura começa por um processo de análise que procura detectar a organização do
texto, percebendo como ele constitui uma unidade e como as partes relacionam-se
para formar essa unidade. Não se limita a analisar estruturalmente o texto, mas
a buscar a intencionalidade do autor desse texto. Procura saber por que o autor
escreveu, qual a finalidade, qual a mensagem que ele quis transmitir. Essa
leitura implica uma atitude crítica voltada não só para a compreensão do
“conteúdo” do texto, mas principalmente ligada à investigação dos procedimentos
de quem o produziu.
Enquanto processo, a leitura de um texto está embasada em noções mais
amplas composta pela vivência que o leitor possui de mundo, além da habilidade
em compreender a linguagem e o vocabulário utilizado. O hábito da leitura e a
constante observação daquilo que o cerca, dão ao leitor mais facilidade de
entendimento e o domínio sobre o conteúdo.
Para Hühne (1989) 5, a leitura apresenta cinco formas básicas:
a) exploratória:
fase em que se lê tudo; o texto inteiro e completo para perceber o todo;
b) analítica:
fase em que se examina o texto, buscando-se as ideias que, juntas, expõem o
todo; a ideia principal, as ideias secundárias, as partes significativas, o
tema, os enfoques abordados, a problematização, a argumentação, as relações
estabelecidas;
c) interpretativa:
fase em que se compreende o conjunto, interpreta-se, ou seja, colocamos no que
o texto apresenta, as vivências que já possuímos; ao interpretar, elaboramos
nosso ponto de vista sobre o assunto, questionando-o, avaliando-o,
criticando-o;
d) problematização:
fase em que se retiram do texto os problemas trazidos, as dúvidas apresentadas;
e) crítica: fase em que se contrapõem ideias – as minhas e as do
texto, formulando juízos.
Indo mais além, é preciso que se decomponha o texto em suas partes
constitutivas, da estrutura e do conteúdo – num exercício de análise do
pensamento proposto. Após, faz-se a recomposição de um novo todo, agora com os
juízos formados, coordenando-os conforme a nova linha de importância que foi
dada à interpretação. É a fase em que o leitor vai reconstruir uma nova
estrutura, ou seja, ele vai recompor o texto utilizando-se das ideias contidas no
próprio texto juntamente com as suas. É o resultado da junção das ideias,
transformando-as numa outra, nova, independente.
Para uma leitura proveitosa e uma boa interpretação, sugerimos diretrizes
apresentadas por Severino: (1986): 6
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LEITURA TEXTUAL
Preparação do Texto
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- análise literal;
- trabalho sobre
cada uma das partes: capítulo, seção, partes, parágrafos – leitura para se
ter noção geral do conteúdo;
- identificação
dos elementos informativos mais expressivos: vocabulário, jogos de palavras,
linhas de abordagens, propostas, encaminhamentos;
-
realização de um esquema do texto, sua estrutura;
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2
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ANÁLISE TEMÁTICA
Compreensão do Texto
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- identificar
tema-problema, a ideia geradora as ideias secundárias, a auxiliares, a
explicativas, a logicidade;
- refazer o
esquema lógico do pensamento do autor;
- esquematizar as ideias.
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ANÁLISE INTERPRETATIVA
Penetração no Texto
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- situar o texto
em seu contexto geral: social, político, religioso, filosófico, cultural,
econômico etc;
- encontrar pressupostos que justifiquem a
abordagem do autor;
- aproximar e
associar ideias dos blocos temáticos do texto: parágrafos, partes,
capítulos...
- assumir uma postura crítica quanto à:
- coerência de
argumentação;
- realidade dos
argumentos apresentados;
- originalidade na
abordagem;
- profundidade na
análise;
- alcance das
conclusões e/ou consequências;
- apreciação e juízo das ideias;
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PROBLEMATIZAÇÃO
Discussão do Assunto
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- levantar questões
básicas e implícitas do texto;
- discutir as questões
levantadas pelo autor;
- debater os
problemas abordados;
- analisar a
organização e influências do texto.
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6. apud THUMS, Jorge. Acesso à Realidade. Técnicas
de Pesquisa e Construção do Conhecimento.
2.ed. Porto Alegre:
Sulina/Ulbra, 2000. p.69, adaptado.